QUAL É A FUNÇÃO DE UM CLÍNICO GERAL?

Entenda o que o clínico geral estuda, quais são as doenças que ele pode tratar e quando o procurar.

Já aconteceu de você passar por vários médicos, sair com uma lista enorme de remédios e, mesmo assim, não conseguir tratar o seu problema? Talvez a solução esteja com o clínico geral.

Esse especialista é capacitado para atender todas as doenças não operáveis em pacientes adultos e idosos – exceto aquelas relacionadas a ginecologia e obstetrícia –, sempre levando em consideração o histórico e a integralidade do paciente.

Mas, afinal, o que isso significa na prática? Esse médico sabe de tudo um pouco? O que ele estudou na faculdade? Em que ocasião devemos recorrer a ele?

Para responder a essas e outras perguntas, conversei com três clínicos gerais de diferentes estados do país: a dra. Vânia Maia Santos, de São Paulo; o dr. Victor Hugo Galvão, do Recife; e o dr. Fleury Johnson, do Rio de Janeiro.

Qual é a diferença entre o clínico geral, o generalista e o médico da família?

No imaginário popular, o clínico geral é, simplesmente, o médico. Aquele profissional que acabou de se formar na faculdade e atua em ambulatórios, unidades básicas de saúde, policlínicas e hospitais menores. Pode ainda ser confundido com o médico da família, que cuida de toda a comunidade e é muito presente, em especial, nas cidades pequenas.

Pela regulamentação, no entanto, a coisa é um pouco diferente:

  • Clínico geral: é o profissional que se formou na faculdade de Medicina, fez uma especialização de dois anos em Clínica Médica (também chamada de medicina interna) e tirou o registro da especialidade pelo Conselho Regional de Medicina (CRM). Atua com foco no paciente adulto e, além da atenção básica, também está apto a trabalhar dentro de hospitais;
  • Generalista: é todo profissional que se formou na faculdade de Medicina e é autorizado a atuar pelo CRM. Pode exercer a profissão em qualquer área, mas precisa fazer uma especialização para se intitular de algum campo específico;
  • Médico da família: é o profissional que se formou na faculdade de Medicina, fez uma especialização de dois anos em Medicina da Família e Comunidade e tirou o registro pelo CRM. Além do paciente adulto, também trata crianças e gestantes, mas é mais focado na atenção básica.

O que o clínico geral aprende durante a sua formação?

Portanto, assim como a neurologia, a cardiologia ou a infectologia, a clínica médica é uma especialidade. Mas, então, como o clínico geral sabe cuidar de todo o corpo humano, enquanto as outras especialidades focam apenas em um órgão ou sistema?

O foco da especialidade está no tratamento não cirúrgico de adultos, desde o final da adolescência até o fim da vida. As bases da clínica médica são a análise da história clínica do paciente e o exame físico minucioso.

Quando procurar um clínico geral?

Quando se diz que esse especialista aborda "todas as queixas não cirúrgicas", parece muita coisa. E realmente é. 

É mais fácil excluir o que a área não abrange.

A ginecologia e a obstetrícia tendem a não ser abordadas. Pacientes com fraturas, dores articulares e patologias tipicamente cirúrgicas, como hérnia umbilical ou apendicite, também não.

Ou seja: queixas gastrointestinais, cardiológicas, respiratórias, musculares e todas as outras que não exigem procedimentos cirúrgicos podem ser tratadas pela clínica médica. Se você tiver uma dor de cabeça, o clínico geral é uma opção tanto quanto o neurologista.

Dor no peito, asma e diabetes, por exemplo, são condições tranquilamente conduzidas pelo clínico.

Entre as principais queixas que o clínico geral trata estão:

  • Hipertensão;
  • Diabetes;
  • Desregulação nos níveis de colesterol;
  • Micoses de pele;
  • Alergias;
  • Infecção pulmonar;
  • Problemas na tireoide;
  • Depressão;
  • Transtornos de ansiedade;
  • Infecção intestinal;
  • Anemias.

Como funciona a consulta de um clínico geral?

Como o leque de doenças tratadas pelo clínico é grande, as consultas costumam ser um pouco mais demoradas do que as outras especialidades. É claro que cada profissional tem a sua maneira de conduzir, mas, na maioria das vezes, ela se divide em três etapas:

  1. Anamnese (conversa): Nessa primeira fase, o clínico irá avaliar os exames trazidos (se houver) e fazer várias perguntas. Não se assuste, a ideia aqui é conhecer a rotina do paciente e avaliar todas as condições de saúde para chegar ao diagnóstico. Alguns exemplos: o que você usa de medicamentos? Tem alergias? Qual o seu histórico familiar? Dorme bem? Pratica exercícios físicos? Como está o intestino? Tem dor de cabeça? Tem tosse? Etc.
  2. Exame físico: Na segunda etapa, o clínico geral avalia todos os sistemas do corpo que sejam relevantes de acordo com a queixa apresentada. Essa parte já é mais direcionada, mas alguns elementos são indispensáveis, como aferir a pressão, auscultar o coração e o pulmão e avaliar o abdômen.
  3. Diagnóstico: Depois da conversa e do exame físico, o especialista apresenta para o paciente o que ele acha que pode estar causando aquela queixa. A partir daí ele desenvolve o plano de cuidado, que pode abranger prescrição de medicamentos, pedido de novos exames, recomendação de internação, encaminhamento para uma sala de emergência, entre outros. Nessa etapa, é fundamental que todas as decisões sejam compartilhadas com o paciente.

Além disso, muitas pessoas procuram o clínico geral para fazer um check-up anual.

Onde o clínico geral pode atuar?

Ainda que o consultório seja um importante pilar do trabalho do clínico geral, ele também é peça-chave dentro dos hospitais. O clínico geral também trabalha como médico de pronto-atendimento, intensivista (em UTIs) e hospitalista.

Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), por sua vez, o clínico é o responsável por fazer o manejo de pacientes já em estados mais críticos.

Por exemplo, no caso de um paciente que precisa ser entubado, precisa ter conhecimento sobre ventilação mecânica, como fazer procedimentos invasivos, como colocar um acesso central. Isso também é papel do clínico.

Dentro dos hospitais, por fim, o profissional precisa resolver as intercorrências dos pacientes internados. Se algum deles apresentar qualquer piora, cabe ao especialista decidir qual será o próximo passo.

Qual é a importância do clínico geral para o sistema de saúde?

Considerando a vasta gama de atuação dos especialistas em clínica médica, fica fácil entender o papel desses profissionais na atenção à população. De acordo com a Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), eles são capazes de diagnosticar e tratar 80% dos problemas de saúde.